domingo, 8 de setembro de 2013

O RELÓGIO DE PEDRO ÁLVARES CABRAL. DE 09/09/13 A 13/09/13. 3º ANO.

O RELÓGIO DE PEDRO ÁLVARES CABRAL


O diretor de arte precisa ser um cara (ou uma cara) muito detalhista, meio obsessivo, mesmo. Isso acontece porque sua responsabilidade é muito grande, em qualquer tipo de filme, seja de época, seja atual – aparentemente, mais simples.

O caso é que, num filme de época, nenhum detalhe que cause ruído pode ser visto. É a velha história do relógio digital que aparece no pulso de um personagem que chegou ao Brasil de caravela, em 1500. Ou algo mais sutil, como o tecido de um vestido que, naquele tempo, não era utilizado. Ou um personagem, nos anos 20, que carrega uma sacola plástica.

Esse tipo de preocupação parece menor, quando o filme em questão se passa na nossa época. Mas não é bem assim. Imaginemos uma seqüência bem simples, de um casal que está num bar. Eles bebem cerveja, fumam, conversam, de vez em quando levantam pra dançar, sentam outra vez, acendem outro cigarro. Manter a continuidade dessa cena é um desafio, pois uma série de detalhes está em jogo, na construção de uma boa arte: a quantidade de cerveja em cada copo, a quantidade de garrafas sobre a mesa, a quantidade de pontas de cigarro no cinzeiro.

Além disso, existe a possibilidade de narrar com os objetos que estão sobre a mesa, com o cabelo e as roupas dos personagens: por que escrever na tela “quatro horas depois”, se podemos ver a mesa cheia de garrafas, o cinzeiro transbordando de pontas de cigarro, as roupas um tanto amassadas, os cabelos meio desgrenhados?

Tudo o que compõe esse bar também deve estar sob o olhar atento do diretor de arte. É um bar chique ou um boteco pé-sujo? Nos dois casos, qualquer coisa que está em quadro pode desmentir a situação. O material de uma porta, por exemplo: se ela for de madeira boa, maciça, bem envernizada, fica difícil acreditar que estamos num bar pé-sujo. Da mesma maneira, uma porta improvisada, de compensado, mal pintada não ambienta um bar chique.

Pois o diretor de arte é esse cara que fica reparando em tudo, tem um olho clínico para a composição do quadro, sabe como e por que cada objeto é mostrado. E que sensação ele passa para o espectador.

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