domingo, 13 de maio de 2012

PLANOS, ÂNGULOS E MOVIMENTOS DE CÂMARA. TODOS OS ANOS.



O plano na filmagem
No momento da filmagem, o plano inicia-se sempre que a câmara (pt) ou câmera (br) é ligada para a captação de imagens e termina quando ela é desligada. Neste sentido, a noção de plano confunde-se muitas vezes com a de tomada. No entanto, no cinema ficcional, um mesmo trecho narrativo pode ser encenado e filmado várias vezes de um mesmo ponto de vista, constituindo várias tomadas de um mesmo plano. Portanto, na filmagem, cada tomada é uma tentativa de rodar um plano [3].
O par de conceitos plano/tomada possui correspondência em outras línguas: shot/take (inglês), plan/prise (francês), plano/toma (espanhol), Einstellung/Take (alemão), etc.
[editar]O plano na montagem
No processo de montagem, partes do início e do final de cada plano rodado são eliminadas, sendo determinada a sua duração definitiva, atendendo a critérios de ritmo e fluência. Um único plano pode ser dividido em trechos menores e dar origem a dois ou mais planos, que serão intercalados com outros dentro de uma cena ou sequência.
Além disso, se foram rodadas várias tomadas de cada plano, o montador deverá escolher qual delas é a melhor, levando em conta critérios de interpretação dos atores, qualidade técnica da fotografia, movimentos de câmara, som, enquadramento, etc. Portanto, na montagem, cada tomada é uma opção de plano [4].
[editar]O plano no filme
No filme finalizado, o plano não será mais um trecho inteiro de filme rodado, mas apenas o trecho selecionado pelo montador, eventualmente modificado pelo processo de pós-produção. O plano é então percebido como um trecho de filme situado entre doiscortes.
Por outro lado, no filme pronto o plano não é mais um conjunto de tentativas de filmagem ou de opções de montagem, mas uma única escolha, montada em sequência com os demais planos do filme. No filme pronto, a tomada deixa de existir, ou então torna-se sinônimo de plano [5].
[editar]Tipos de plano [6]
quanto à distância entre a câmera e o objecto filmado (enquadramento)
§  Plano geral: mostra uma paisagem ou um cenário completo.
§  Plano de conjunto: mostra um grupo de personagens.
§  Plano médio: mostra um trecho de um ambiente, em geral com pelo menos um personagem em quadro.
§  Plano americano: mostra um único personagem enquadrado não de corpo inteiro (da cabeça até a cintura, ou até o joelho).
§  Primeiro plano: mostra um único personagem em enquadramento mais fechado que o plano americano (em muitas situações, oprimeiro plano é considerado sinónimo de close-up).
§  Plano próximo, grande plano ou close-up (ou apenas close): mostra o rosto de um personagem.
§  Plano detalhe: mostra uma parte do corpo de um personagem ou apenas um objecto.
quanto à duração
§  Plano relâmpago: dura menos de um segundo, correspondendo quase a um piscar de olhos.
§  Plano-sequência: é um plano tão longo que se pode dizer que corresponde a uma sequência inteira do filme.
§  Entre esses dois extremos, pode haver planos mais curtos (com duração de uns poucos segundos) ou mais longos (durando um ou vários minutos). Mas é claro que a percepção de um plano como curto ou longo depende não apenas de sua duração, mas também do que acontece no decorrer do plano.
quanto ao ângulo vertical
§  Plongê (do francês plongée, "mergulhado") ou Picado: a câmara está posicionada acima do seu objecto, que é visto, portanto, em ângulo superior. No exemplo mais simples, filma-se um personagem colocando-se a câmara acima do nível de seus olhos.
§  Contra-plongê ou Contra-picado: a câmara colocada abaixo do objeto faz com que o espectador veja a cena de baixo para cima (por exemplo, abaixo do nível do olhar do personagem).
§  Zenital (ou plongê absoluto): a câmara é colocada no alto do cenário, apontando diretamente para baixo. Seu nome provém da palavra zênite, que é o ponto central do céu quando olhamos diretamente para ele.
§  Contra-zenital (contra-plongê absoluto): a câmara aponta diretamente para cima.
quanto ao ângulo horizontal
§  Frontal: é o plano em que a câmara filma o personagem ou objeto de frente.
§  Lateral (ou de perfil): o personagem é visto de lado.
§  Traseiro: o personagem é visto por trás.
§  Plano de 3/4: ângulo intermediário entre o frontal e o lateral (assim chamado porque mostra aproximadamente 3/4 do rosto do personagem).
§  Plano de 1/4: ângulo intermediário entre o lateral e o traseiro.
quanto ao movimento
§  Plano fixo: é aquele em que a câmara permanece fixa, sobre o tripé ou outro equipamento adequado, ainda que haja movimento interno no plano, de personagens, objectos, veículos, etc.
§  Panorâmica: é o plano em que a câmara, sem se deslocar, gira sobre seu próprio eixo, horizontal ou verticalmente.
§  Travelling: é o plano em que a câmara se desloca, horizontal ou verticalmente, aproximando-se, afastando-se ou contornando os personagens ou objectos enquadrados, sendo para isso utilizado algum tipo de veículo (carrinho), sobre rodas ou sobre trilhos, ou com a câmara na mão ou ainda com algum tipo de estabilizador.
§  Zoom: é um movimento aparente de aproximação (zoom in) ou de afastamento (zoom out) em relação ao que é filmado, provocado por uma manipulação das lentes da câmara, sem que a câmara em si execute qualquer deslocamento ou rotação.

domingo, 6 de maio de 2012

PLANEJAR UM PLANO. TODOS OS ANOS.


PLANEJAR UM PLANO

Não adianta nada fazer um plano lindo, se ele não contribui com a história, com a emoção do que está sendo contado. Antes de falar mais sobre a importância dos planos a serviço de contar a história, de passar a emoção, vamos entender o que é um plano.

Um plano é o trecho de filme que começa quando a câmera é ligada e termina quando a câmera é desligada. Quer dizer, se eu ligo a câmera, e um personagem, com uma lágrima no rosto, diz “Vou pegar um táxi”, e eu desligo a câmera, tenho um plano. Se ligo a câmera, novamente, quando o personagem atravessa a rua e desligo quando ele chega à calçada, tenho outro plano. Se ligo a câmera quando ele entra no táxi e desligo quando o táxi parte, tenho mais um plano.

Da mesma forma, se ligo a câmera, o personagem diz “Vou pegar um táxi”, se levanta, caminha na calçada, atravessa a rua, faz sinal para um táxi, entra no táxi, o táxi parte, e eu desligo a câmera, tenho um plano maior. Enfim, sabendo que uma cena é um conjunto de ações e/ou diálogos que acontecem num mesmo lugar e num mesmo tempo, podemos dizer que uma cena é formada por vários planos. Ou por um mesmo plano que mostra toda a seqüência de acontecimentos. Simples assim.

O problema começa quando temos de definir, por exemplo, quando ligar e quando desligar a câmera. E onde, exatamente, essa câmera precisa ser colocada para captar as ações desse personagem que vai pegar um táxi. Eis um dos grandes dilemas do diretor.

Bem, é muito importante que todo diretor faça um planejamento daquilo que deseja filmar. Que chegue ao set sabendo (ou pensando que sabe) o que precisa, tendo uma ideia clara do que é a cena e de quais imagens precisará para contar a história.

Esse trabalho começa na leitura do roteiro, em que o diretor analisa a cena imaginando cada movimento, cada expressão, cada objeto que compõe o cenário, cada fala do personagem.

Vamos imaginar que nosso personagem do táxi é um rapaz que acaba de receber a notícia da morte do pai, a quem não vê há muitos anos. Ainda confuso, ele se senta no meio-fio e observa os carros que passam pela rua.

O desafio do diretor, nessa cena, é mostrar o momento em que o personagem decide pegar um táxi e ir ao enterro do pai. Onde posicionar a câmera, afinal? Bem, se o personagem chora ao dizer “Vou pegar um táxi”, e se mostrar o choro é importante para gerar emoção na cena, então é preciso colocar a câmera próxima ao rosto do personagem.

Quer dizer, se é importante que o público veja a lágrima caindo, de que adianta uma câmera que mostre somente os carros que passam na rua? Por mais bonita que possa ser uma imagem de cima de um prédio, mostrando a rua movimentada lá em baixo, de que ela vale, se não captou a lágrima de nosso personagem, se não foi capaz de transmitir sua emoção para quem assiste ao filme?

As posições de câmera e seus movimentos sempre estão em função do contexto e/ou do sentimento da cena. Se a imagem se aproxima de um rosto ou de um objeto, é porque ali existe algo importante para ser mostrado.

Enfim, um diretor não escolhe a imagem mais bonita. Escolhe a maneira mais bonita de contar a história que precisa contar, de passar o sentimento que deseja passar. Um plano simples, mas forte simbolicamente, que contribui com a narrativa, vale mais que mil planos lindíssimos e vazios de significado no contexto do filme.
Texto: Henry Grazinoli