domingo, 17 de novembro de 2013

TEATRO RENASCENTISTA. 2º SEMESTRE. 1º ANO.

Quando a Idade Média chegou ao fim, a situação do teatro já era bem melhor e ia começar uma fase ainda mais própria com o Renascimento, como é chamada a época que se seguiu às grandes navegações, aos descobrimentos de novas terras, à invenção da imprensa e divulgação das grandes obras da antiguidade, traduzidas para os idiomas europeus. As universidades, que eram poucas na Idade Média, se multiplicaram. Houve um florescimento extraordinário da arquitetura, da pintura, da escultura e também do teatro. Na Alemanha, um simples sapateiro, chamado Hans Sachs, tomado de paixão pelo teatro, escreveu numerosas tragédias, dramas, comédias e alegorias, ora explorando temas gregos, como de Clitemnestra, ora temas bíblicos. Na Itália, o poeta Ludovico Ariosto escreveu comédias encenadas na corte de Ferrara e o florentino Nicolo Machiavelli compôs uma das obras-primas do teatro renascentista italiano, A Mandrágora (La Mandragora), ainda hoje representada e convertida em filme. No século XVI, chegou ao apogeu, na Itália, a Commedia dell'Arte, assim chamada porque nela, o talento e a capacidade de improvisação dos artistas sobrepujavam o texto literário. A Commedia dell'Arte tinha personagens fixos, tais como Arlequim, Scaramuccia, Brighela, Pantalone, etc., os quais desenvolviam sua representação de acordo com as características de tais tipos. Os autores escreviam apenas um breve resumo da intriga, fixando a linha geral das situações, ou acontecimentos, e deixando o diálogo inteiramente por conta dos interprétes. Além de hábeis improvisadores, os artistas da Commedia dell'Arte eram também grandes mímicos, transmitindo a comicidade tanto por suas palavras, como por gestos e atitudes. Graças a isso, a Commedia dell'Arte conseguiu fazer sucesso, por longo tempo, na França, influenciando bastante o teatro francês. Ao mesmo tempo que surgiam atores de talento e melhorava a qualidade das representações, realçadas por cenários pintados, um grande arquiteto italiano, Andrea Paládio, iniciava a construção do primeiro teatro coberto, onde era possível representar com qualquer tempo, mesmo com chuvas ou quedas de neve, para um público de 3 mil pessoas. Foi esse o Teatro Olímpico, de Vicenza, no norte da Itália, perto de Veneza, completado por seu discípulo Vicenzo Scamozzi em 1588 - oito anos após sua morte - e até hoje preservado como monumento histórico.
Quando a Itália já tinha seu primeiro teatro coberto, verdadeiro primor da arquitetura, apresentando no palco, em perspectivas, as ruas de uma cidade, como cenário fixo, em outros países as representações continuavam a ser feitas ao ar livre. Na Espanha, por exemplo, eram realizadas em pátios de estalagens, estábulos e currais abandonados. Era o que fazia a primeira companhia profissional espanhola, organizada pelo autor, ator e empresário Lope de Rueda. Os primeiros teatros de Madrid tiveram nomes como Corral de la Pacheca e Corral de la Cruz, por terem sido estabelecidos em velhos currais. O primeiro teatro coberto de Madrid foi o Corral de la Pacheca, onde se estabeleceu uma companhia italiana que, não querendo perder dinheiro na estação chuvosa, construiu um teto sobre o palco e parte da platéia. Em 1582, o Corral de la Pacheca foi reconstruído, como um autêntico edifício, trocando então o nome não para teatro, mas para Corral del Principe. O Corral de la Cruz, construído em 1579 como teatro aberto, mas com algumas novidades, como a colocação de camarotes e de uma seção só para mulheres, procurou adaptar-se ao novo estilo. Depois de Lope de Rueda, surgem na Espanha outras figuras importantes da dramaturgia, a começar por Juan de la Cueva e foi autor de inúmeras peças, uma das quais era ainda muito representada no século passado, Os Sete Infantes de Lara. Outro autor da mesma época foi Miguel de Cervantes, autor do drama Cativeiro em Argel, sobre suas próprias aventuras como prisioneiro dos argelinos, e a tragédia O Cerco de Numância, além de numerosos entremeses, ou peças. Mas a fama do romancista de Dom Quixote de la Mancha obscurecem quase inteiramente sua atividade teatral.
A chamada "idade de ouro" do teatro espanhol começa verdadeiramente com Lope Félix de Vega Cárpio, ou simplesmente Lope de Vega, que escreveu centenas de peças, algumas das quais permanecem vivas e interessantes ainda hoje., como Fuente Ovejuna e El Perro del Hortelano. Na sua febre de produção, ele se valia de toda espécie de escritos alheios, uns tirados da bíblia, outros da mitologia, da história, das crônicas, baladas, lendas, vidas de santos, etc. Entre seus continuadores está Guillén de Castro, nascido em 1569, sete anos depois de Lope de Vega, mas desaparecido quatro anos antes deste, no ano de 1631. Guillén de Castro é lembrado principalmente pelas peças que escreveu sobre Rodrigo Dias de Bivar, mas conhecido como "El Cid", uma dela intitulada Las Mocedades de El Cid. Foi autor também de Alarcos e fez uma dramatização de Dom Quixote. Juan Ruiz Alarcón y Mendoza, conhecido apenas como Alarcón, nascido no México em 1580, mas criado e educado na Espanha, escrever cerca de vinte comédias, entre as quais A Verdade Suspeita (La Verdad Sospechosa), que seria depois intitulada na França e na Itália. Tirso de Molina pôs em cena a figura de Don Juan em El Burlador de Sevilla (burlador tem o sentido de enganador ou sedutor). outro espanhol Luís Vélez de Guevara, dramatizou a tragédia de Inês de Castro, sob o título de Reinar Depois de Morrer.
Os teatros na Inglaterra continuavam a ser abertos, representando os atores numa plataforma e ficando o público de pé, perto desta, ou ao fundo, sentado em três galerias dispostas em semicírculo. Ainda assim, foi extraordinário o florescimento desse teatro, sob o reinado da Rainha Elizabeth I. Prevalecia, naquele país, o mais arraigado preconceito contra a profissão teatral, só exercida pelos homens. Os papéis femininos eram representados por rapazes, que se vestiam como mulheres, imitando a voz e os ademanes destas. Os atores eram considerados vadios e vagabundos. E, para não serem incomodados pela polícia, tinham de obter proteção de altas personalidades da nobreza britânica, que os empregavam como seus criados e, por isso, fora do palco, vestiam a libré da criadagem desses nobres.
Os autores desse período ficaram conhecidos como os "dramaturgos elisabetanos". Dentre eles, o mais notável foi Willian Shakespeare, nascido em Stratford em 1564 e desaparecido em 1616. Deixou ele cerca de 35 peças - dramas históricos, tragédias e comédias - ainda hoje representados com sucesso pelos mais famosos artistas, tanto na Inglaterra como no resto do mundo.
Do mesmo modo que o espanhol Lope de Vega, Shakespeare se valeu de diversas fontes - crônicas históricas, biografias escritas por Plutarco, contos e novelas de autores italianos, bem como peças escritas por seus antecessores. Assim, comoveu o mundo com a história dos amores trágicos de Romeu e Julieta, de Otelo e Desdêmona, com as tragédias do Rei Lear, de Hamlet e de Macbeth, do mesmo modo que fez rir com as alegres peripécias das Alegres Comadres de Windsor, com os quiproquós de A noite de Reis, com os hilariantes incidentes de A Megera Domada e várias outras comédias. Fez ressurgir do passado as figuras de Júlio César e Coriolano, infundindo extraordinário vigor dramático aos estudos biográficos de Plutarco. E apresentou um mundo mágico, cheio de poesia e de fantasia, em A Tempestade.
Entre os seus contemporâneos, um dos que mais se distinguiram foi Bem Johnson, o autor de Volpone, or the Fox, hoje conhecido apenas como Volpone, admirável comédia ainda representada com sucesso e convertida em filme. Muitos outros autores importantes surgiram, mas o teatro inglês não tardou a sofrer um grande golpe com a guerra civil que colocou no poder Oliver Cromwell. Os puritanos, que viam o teatro com maus olhos, conseguiram fechá-los por uma lei do Parlamento em 1642, permanecendo os artistas teatrais privados de exercer a sua profissão por nada menos de 18 anos!
Bem diversa era a situação do teatro na França onde passou a ser a diversão preferida da corte e da alta aristocracia. Os reis e príncipes protegiam autores e artistas. Isso propiciou o aparecimento de grandes figuras, que deram notável impulso à dramaturgia e à arte teatral francesa. O Cardeal Armand Jean Du Plessis, Duque de Richelieu, que governou a França como o principal ministro de Luís XIII, jovem rei por ele completamente dominado, era um entusiasta das letras e do teatro. Em 1636, a fim de que, bem remunerados, ocupassem o seu tempo em escrever peças teatrais para a corte. A essa altura, um deles, Pierre Corneille, tinha 30 anos de idade e já era autor de algumas comédias, entre as quais A Ilusão Cômica, e de uma tragédia, Medéia, baseada na de Eurípides. Corneille durou pouco tempo em tal função, por ser por demais independente e por alterar ou recusar os assuntos que lhe eram sugeridos. Seu maior sucesso, logo depois de a Ilusão Cômica, foi a peça O Cid, imitada em alguns trechos e, noutros literalmente traduzida do espanhol de Guillén de Castro. Mesmo depois de rompido o seu contrato, esse drama foi representado, por duas vezes, no teatro particular do Duque de Richelieu. Outro grande sucesso de Corneille foi o de Le Menteur (O Mentiroso), em que se valeu da trama e outra peça espanhola, A Verdade Suspeita (La Verdad Sospechosa), de Alarcón. Corneille escreveu também tragédias como Cina, A Morte de Pompeu, uma nova versão e Édipo, etc. Tudo isso lhe valeu ser eleito para a Academia Francesa. Mas depois entrou em declínio, escrevendo peças que não obtiveram o favor público, como Átila e Agesilau. Algumas foram representadas no castelo do Marquês de Sourdéac, no Marais, e outras no Hotel de Bourgogne.
O outro grande dramaturgo da época, Jean Racine, nasceu em 1639, quando Corneille contava 33 anos. Amigo de La Fontaine e de Boileau, poetas que ainda não haviam alcançado a fama, conquistou também a estima de Molière, ator e autor de comédias, que em 1658 se fixara no Palais-Royal, em Paris, com sua companhia, sob a proteção da corte de Luís XIV. O talentoso Jean Racine, aos 25 anos, via ser representada, no Palais-Royal, pela companhia de Molière, a sua primeira peça, A Tebaida, ou Os Irmãos Inimigos. Já na segunda peça, Andrômaca, era Racine reconhecido como um grande dramaturgo e também, como um ingrato, pelo menos por Molière, pois rompera com este e se fora para o Hotel de Bourgogne, para lá levando a melhor atriz do Palais-Royal, Mlle. Du Parc, de quem se tornara amante. Mais, ainda: quando Molière começou a ensaiar a peça de Corneille, Tito e Berenice, Racine resolveu escrever a peça Berenice, sobre o mesmo assunto (os amores do imperador romano com a filha de Salomé e sobrinha de Herodes), levada à cena uma semana depois daquela. A rivalidade entre Racine e Corneille animou bastante o teatro francês da época. Outra das tragédias de Racine, Britannicus, ainda hoje representada, teria exercido forte influência sobre Luís XIV, através da severa crítica às veleidades artísticas de Nero, um dos personagens da peça. Depois disso, o rei deixou de se apresentar nos balés e outros divertimentos da corte, em que tinha o capricho de se exibir. Voltando para o mundo antigo, Racine escreveu peças como Alexandre, Esther, Mitríades, Fedra, Ifigênia em Áulida, etc. E só uma vez escreveu uma comédia, sobre tipos franceses contemporâneos, Les Paideurs (Os Litigantes), também em versos, com seus dramas e comédias.

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