A Commedia
dell'arte surgiu na segunda metade do séc. XVI, atingiu sua maior popularidade
no séc. XVII e chegou até meados do séc. XVIII, quando entrou em declínio.
Este gênero
teatral que durou aproximadamente dois séculos e meio, exerceu grande fascínio por
quase toda a Europa e influenciou (como ocorre ainda hoje) diversos atores,
dramaturgos e encenadores: Shakespeare, Molière, Jean–Louis Barrault,
Meyerhold, Jacques Lecoq, Dario Fo, Strehler, Marcelo Moretti, entre outros.
Na Fábula Atelana,
uma espécie de farsa vinda da cidade de Atela, popular em 240a.C., foram
identificadas algumas semelhanças com o gênero e os tipos da Commedia
dell'arte.
A representação da Fábula Atelana
consistia no desenvolvimento improvisado de intrigas pré ordenadas. Essas intrigas
aconteciam mediante quatro tipos-fixos fortemente caracterizados nas máscaras,
no comportamento e no aspecto, estilizando tipos populares, são eles : Pappus –
um velho estúpido, avarento e libidinoso; Maccus – gozador, tolo, brigão; Bucco
– com uma boca enorme provavelmente por ser comilão, ou ainda targarela e
Dossennus, um corcunda malicioso. Seria Pappus o Pantaleone, na Commedia
dell'arte, ou Maccus o Arlecchino, embora a semelhança esteja mais em
Pulcinella? Ou ainda poderia ser Brighella inspirado em Bucco? Enfim, são
máscaras aproximativas numa distância de quase dois milênos entre elas.
Quem teve grande importância para
a Commedia dell'arte foi o autor e ator padovano, Ângelo Beolco (1502–1542),
conhecido como Ruzante - personagem que representava e que se caracterizava por
ser um camponês guloso, grosseiro, preguiçoso, ingênuo e zombador, estando no
centro de quase todos os contextos cômicos. Suas comédias colocavam o ator a
recitar em dialeto padovano.
Elas têm
importância na história do teatro italiano, pois representam os primeiros
documentos literários em que a repetição dos mesmos caracteres em personagens
de mesmo nome anima uma série de tipos-fixos, que podem ser considerados os
precurssores das máscaras da Commedia dell'arte.
A Commedia dell'arte
era representada por atores profissionais, e teve várias denominações como
Commedia all'improviso – comédia fundamentada sobre o improviso; Commedia a
soggeto – comédia desenvolvida através de um canovaccio (roteiro) e ainda
Commedia delle Maschere – comédia de máscaras.
Em 1545, em Pádua,
é encontrado o primeiro registro de formação de uma trupe de Commedia
dell'arte, onde oito atores se comprometem a atuarem juntos por um determinado
período – até a quaresma de 1546 – fixando direitos e deveres entre eles,
caracterizando um contrato profissional.
Desse modo, pela
primeira vez na Europa, com a Commedia dell'arte, uma companhia teatral era
caracterizada por constituir um grupo de atores que viviam exclusivamente de
sua arte. Era estabelecido assim uma organização nova, com atores
especializados e bem treinados para exercer o seu ofício.
Este gênero
teatral se caracterizava por uma dramaturgia que nascia da representação do
ator. Os atores, além de terem uma intensa preparação técnica (vocal, corporal,
musical...), representavam, geralmente, o mesmo personagem por toda sua vida,
criando assim uma codificação precisa do tipo representado. Estes
personagens-fixos, representavam seguindo a estrutura de um roteiro -
canovaccio, que orientava a sequência das ações e a partir do qual
"improvisavam". Os canovacci não variavam muito em termos de intriga
e de relação entre os personagens.
Cada personagem,
por sua vez, possuía um repertório próprio que se recombinava conforme a
situação. O chamado improviso, não era portanto, uma invenção do momento, mas a
liberdade que somente é possível de ser adquirida pelo ator, através de um
treinamento permanente.
Dentro da
estrutura dos canovacci também existia a possibilidade de intervenções
autonômas, denominadas de lazzi, que os atores introduziam para comentar ou
sublinhar comicamente as ações principais, interligar as cenas e ocupar os
espaços vázios. Com o uso, esses lazzi eram repetidos e fixados e passavam a
fazer parte do repertório dos personagens.
As trupes da Commedia
dell'arte eram formadas, geralmente, por oito ou doze atores. Os personagens
representados eram divididos em três categorias: os enamorados, os velhos e os
criados chamados zannis, que provavelmente deriva de Giovanni, nome típico do
ambiente camponês italiano.
Os enamorados eram
geralmente representados por homens e mulheres belos e cultos, falavam com
elegância num toscano literário, eventualmente poderiam ser personagens
ingênuos e não muito brilhantes. Vestiam-se com roupa da moda e não utilizavam
máscaras. A enamorada, segundo o esquema da trama, poderia ser cortejada por
dois pretendentes, um jovem e um velho.
Entre os
personagens que utilizavam máscaras encontramos os velhos e os criados. Os
velhos são: Pantalone, um rico mercador veneziano, geralmente avarento e
conservador. Falava em dialeto veneziano, era apaixonado por provérbios e,
apesar de sua idade, cortejava uma das donzelas da comédia. Sua máscara era
negra e se caracterizava por seu nariz adunco, o que remetia aos hebreus, e sua
barbicha pontuda.
Pantalone,
com sua figura esguia, contrastava e complementava no jogo cênico com a figura
redonda do outro velho, o Dottore, que podia aparecer como amigo ou rival de
Pantalone. Era pedante, normalmente advogado ou médico, falava em dialeto bolonhês
intercalado por palavras ou frases em latim. Gostava de ostentar a sua falsa
erudição, mas era enganado pelos outros por ser extremamente ingênuo. Era um
marido ciumento e geralmente cornudo. Sua máscara era um acento que só marca a
testa e o nariz.
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