DIREÇÃO EMOCIONAL
Você já tentou explicar para alguém o que é, exatamente, sentir solidão? Ou saudade? Sentir-se melancólico, incerto ou animado? Estar apaixonado? Enfim, você já tentou teorizar alguma emoção para outra pessoa?
Provavelmente. E, provavelmente, percebeu como é difícil ser claro, traduzir estados interiores para a linguagem verbal. Em geral, nossas explicações são vagas.
Vamos ver o que diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa sobre a solidão.
Solidão
substantivo feminino
1 estado de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só; isolamento.
5 sensação ou situação de quem vive afastado do mundo ou isolado em meio a um grupo social.
Bem, não é preciso ser um grande sábio para perceber que esse verbete não explica coisa alguma. A sensação de solidão, como ela é, nem o dicionário explica. Por isso, a gente costuma recorrer à linguagem simbólica. Porque é mais certeiro e mais gostoso fazer nosso interlocutor sentir, na medida do possível, o mesmo que sentimos.
No cinema, essa linguagem simbólica está diretamente relacionada à imagem e ao som. Imaginemos a seguinte cena: um homem caminha pela calçada de uma grande cidade. Muitos carros passam apressados pela pista. Uma multidão vai e vem pela calçada. No entanto, tudo está embaçado, fora de foco. O homem é a única figura que vemos com nitidez, com foco. E não ouvimos os ensurdecedores ruídos da cidade. Escutamos apenas os passos do homem, o barulho de seus sapatos tocando o cimento.
O diretor é uma espécie de tradutor dos sentimentos para a linguagem simbólica do cinema. É dele a responsabilidade de comunicar, por meio de imagem e som, nossos estados interiores. Quando assistimos a um filme, muitas vezes não estamos atentos a essa “linguagem sensível”. Simplesmente rimos. Simplesmente choramos. Simplesmente sentimos. Acompanhamos uma história e nem nos damos conta de que, muito mais que personagens ou elementos narrativos, o que ficou dentro de nós foi algum sentimento. Alguma emoção.
Enfim, “pode-se dizer que o retângulo da tela deve ser carregado de emoção”. Palavras de Alfred Hitchcock, um dos maiores diretores da história do cinema.
Texto: Henry Grazinoli
Nenhum comentário:
Postar um comentário