Grupo
carioca que centraliza, nos anos 1960, o teatro de protesto e de resistência,
núcleo de estudos e difusão da dramaturgia nacional e popular.
Imediatamente
após o golpe militar de 1964, um grupo de artistas ligados ao Centro Popular de Cultura da UNE - CPC (posto
na ilegalidade) reúne-se com o intuito de criar um foco de resistência à
situação. É então produzido o show musical Opinião,
com Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia),
cabendo a direção a Augusto Boal, do Teatro de Arena paulistano. A iniciativa
conhece o sucesso instantâneo, que contagia diversos outros setores artísticos
(uma exposição de artes plásticas no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro - MAM/RJ, denominada Opinião
65, surge em decorrência), e aglutina artistas dispersos ligados
aos movimentos de arte popular. O show se apresenta no Rio de Janeiro,
estreando em 11 de dezembro de 1964, e marca o nascimento do grupo, que virá a
se chamar Opinião.
Oficialmente
estruturado como empresa em 1966 por Ferreira Gullar, Oduvaldo Vianna Filho, Teresa
Aragão, Paulo Pontes, Pichin Plá, João das Neves, Armando Costa e Denoy de Oliveira, o Opinião
lança Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come,
de Ferreira Gullar e Oduvaldo Vianna Filho. Espetáculo farsesco e irreverente,
baseado na tradicional cultura nordestina, tem direção de Gianni Ratto e conta no elenco, entre outros,
com Agildo Ribeiro, Odete Lara, Oswaldo Loureiro, Jofre Soares e Marieta Severo. Enfoca a luta de classes
enfatizando a fraqueza ética de todas elas.
Desde
sua fundação, o Opinião privilegia a arte popular e abre espaço para shows com
compositores das escolas de samba cariocas, influindo não apenas na a mudança
de gosto do público como, facilitando a disseminação da cultura periférica nos
grandes centros de divulgação cultural. Assembléias, reuniões e demais
manifestações de protesto da categoria teatral faziam do Opinião seu epicentro,
nos primeiros anos após o golpe militar.
A
montagem seguinte, A Saída?
Onde Fica a Saída?, uma adaptação de Frederick Cock, em 1967, trata
da guerra do Vietnã. O diretor João das Neves emprega o esquema Sistema Coringa, criado pelo Teatro de Arena,
para colocar em cena as perplexidades e expectativas criadas frente ao conflito
no Extremo Oriente. Célia Helena e Oduvaldo Vianna Filho
destacam-se no elenco.
Entre
1966 e 1967, o grupo dedica-se a um seminário interno de dramaturgia, na
tentativa de encontrar novos modelos dramatúrgicos para flagrar a nova
realidade instaurada pelo regime militar. Nele, são discutidas obras como Moço em Estado de Sítio,
de Oduvaldo Vianna Filho, Dr.
Getúlio, Sua Vida e Sua Glória, de Ferreira Gullar e Dias Gomes e O Último Carro, de João das Neves,
montadas posteriormente em contextos diversos.
Em
1967, ocorrem desentendimentos internos e Vianinha e Paulo Pontes desligam-se
do grupo, para fundar o Teatro do Autor; aos poucos outros integrantes vão
igualmente se afastando.
Os
quatro anos de fundação são comemorados, em 1968, com uma discreta montagem de Antígone, de Sófocles, por
iniciativa de João das Neves.
Com
o esfacelamento do coletivo de artistas, em 1969, resta a sala de espetáculos,
que passa a ser alugada para produções independentes e shows musicais. Em 1970,
ocorre um Concurso de Dramaturgia, vencido por Aldomar Conrado com O Sol sob o Pântano,
montada no ano seguinte. Leituras dramáticas e novos shows musicais, com
destaque para Milton Nascimento e MPB-4, ocupam a sala, para arrecadar fundos e
mantê-la em funcionamento. Se
Eu Tivesse Meu Mundo, um show-espetáculo de Sérgio Ricardo, é
montado por João das Neves, em 1973.
Essa
precária sobrevivência mantém-se até 1976, quando novamente João das Neves, com
uma surpreendente cenografia de Germano Blum e trilha sonora de Rufo Herrera,
monta seu texto O Último Carro.
Após
grande sucesso no Rio de Janeiro, a montagem é levada para a 14ª Bienal
Internacional de São Paulo, onde repete o êxito carioca e recebe o Grande
Prêmio da Bienal, em 1977. Para a encenação são construídas réplicas
de quatro vagões de trens, colocadas uma em cada parede, a platéia é
acomodada no espaço vazio formado no centro. É possível assim acompanhar a
ação, muitas vezes simultânea nos quatro vagões, que reúne uma grande
quantidade de personagens pobres, anônimos, sofridos, embarcados na composição
que perde o maquinista e ruma, sem esperança, para algum incógnito destino.
João
das Neves viaja para a Alemanha, onde desenvolve projetos ligados a peças
radiofônicas e novos formatos dramatúrgicos. Já no Brasil, após uma ampla
pesquisa junto a populações carentes reúne o material e dá-lhe forma cênica, em
Mural Mulher, em
1979. As atividades tornam-se, nos anos seguintes, cada vez mais esporádicas. O
diretor, último remanescente dos fundadores do Opinião, desfaz-se do teatro em
1983.
Em
seus melhores momentos, o Opinião não apenas centraliza a generalizada
indignação da classe artística contra a Censura e a ditadura mas também luta,
com os meios disponíveis, para implantar uma nova consciência cênica
brasileira, apoiando a dramaturgia que enfoca as classes populares e suas
condições de existência.