domingo, 28 de agosto de 2011

DIRETOR DE CINEMA. TODOS OS ANOS.

O BAÚ DO DIRETOR

Todo diretor tem um baú. Seja de madeira ou de plástico, uma gaveta, um arquivo de metal ou uma pasta de elástico, o importante é que o baú esteja cheio – cheio de informações e de referências e pronto para ser compartilhado com um monte de gente.

Num baú do diretor, podemos encontrar: filmes de outros diretores (que, geralmente, funcionam como referência do que fazer ou do que não fazer nos próprios filmes), livros, fotografias, reproduções de obras de arte, anotações, um cartão postal... Enfim, tudo o que um diretor acha interessante, vida afora, ele guarda no seu baú.

Isso acontece porque o diretor depende muito de referências. Não só por ser um criador – afinal, não se cria nada do nada – mas também por ter a grande responsabilidade de transmitir para a sua equipe, com muita clareza, a estética, a mensagem e a unidade do filme que quer realizar. E nada como mostrar, dar um exemplo, para se fazer entender melhor.

Por exemplo: um diretor quer gravar uma cena de seu filme com luz de vela, sem usar nenhum recurso de luz artificial. Numa conversa com o diretor de fotografia, ele diz: “Eu quero aquele efeito, sabe aquele efeito que não dá pra falsear, que só a luz de vela tem?”. Bem, talvez o diretor de fotografia saiba. Talvez não. Afinal, essa idéia pode ser muito pessoal, e “aquele efeito que só a luz de vela tem” pode significar uma coisa para o diretor e outra coisa completamente diferente para o fotógrafo.

Agora, imaginemos que o diretor diga o seguinte: “Eu quero aquele efeito, sabe aquele efeito que não dá pra falsear, que só a luz de vela tem? Bom, se você não consegue ler meus pensamentos, assista a algumas cenas do filme Barry Lyndon, do Stanley Kubrick. Ele filmou à luz de vela e ficou incrível”. Pronto, existe um símbolo capaz de criar uma unidade de pensamento entre diretor e fotógrafo. A partir dessa referência, os dois podem começar a pensar juntos.

Esse princípio funciona para a relação do diretor com o roteirista, o diretor de arte, o editor de som, o compositor, os atores, o montador, etc. Portanto, podemos dizer que uma das funções do diretor é ter um baú. Um baú geral ou um para cada filme que decide fazer. E precisa dividir com sua equipe as informações contidas nesse baú.

Uma última e importante observação: usar referências não é copiar outros trabalhos. Usar referências é compreender outros trabalhos para pensar com mais clareza e profundidade o seu próprio trabalho.

Texto: Henry Grazinoli
Consultoria de conteúdo: Laís Bodanzky

domingo, 21 de agosto de 2011

DIRETOR DE CINEMA. TODOS OS ANOS. 3.BIMESTRE.

DIRETOR DE CINEMA. TELABR.





O CARA





Há vários filmes dentro de um mesmo filme: o filme imaginado, exibido na cabeça do roteirista (que em muitos casos é o próprio diretor); o filme possível, depois que o roteiro passa pelo olhar da produção (que demonstra as verdadeiras possibilidades de realização); o filme em filmagem, sempre aberto a interferências e modificações impostas pelo local de captação, pelo trabalho dos atores e pela criatividade de outros membros da equipe; e, finalmente, o filme em montagem, quando cada cena representa uma peça de um quebra-cabeça a ser montado.

Muitas vezes, no processo de edição, percebemos que o roteiro, espécie de modelo para montar nosso puzzle, pode não ser o melhor caminho a seguir. O filme, mais uma vez, muda de rumo. Como um processo à primeira vista tão caótico, tão repleto de olhares diferentes, de limitações e de dezenas de interferências pode gerar filmes tão incríveis?

A resposta a essa pergunta nos leva diretamente à figura do diretor de cinema. Ele é o cara que acompanha e coordena todo esse processo, do início ao fim. Que precisa fazer das interferências e limitações algo positivo para o filme. Que tem de transformar a multiplicidade de olhares da sua equipe em um olhar único (sabendo manter suas ideias ou mudá-las).

Também é o cara que puxa o fio central da história, desde a entrada até a saída do labirinto. Que conhece seu projeto como ninguém. Que busca cercar-se das melhores pessoas, zelar pelo bom convívio e conduzí-las a um objetivo comum. Que sabe um pouco (ou muito) de todas as áreas envolvidas na produção de um filme. Que traz as primeiras referências do que acredita ser a estética ideal para contar uma história.

Enfim, no processo cinematográfico, toda a equipe envolvida tem uma importância fundamental. Sem ela, definitivamente, um filme não existe. Mas o diretor (seja diretor ou diretora) é O CARA.

Texto: Henry Grazinoli
Consultoria
de conteúdo: Laís Bodanzky